Sexta-feira, 13 de Abril de 2018
Confiança anda de lado no País apesar de inflação e juro baixos
Por Paula Salati
Apesar da queda da inflação e da taxa básica de juros (Selic), a confiança do empresariado e dos consumidores está andando de lado e a tendência é que de uma recuperação muito lenta e gradual, assim como as expectativas com relação ao Produto Interno Bruto (PIB).
É o que avaliam especialistas ouvidos pelo DCI. Além das indefinições políticas com relação ao cenário eleitoral, o elevado nível de desemprego tem mantido baixa a confiança das famílias brasileiras, que ainda se encontram bastante endividadas, avalia o superintendente de Estatísticas Públicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) Aloisio Campelo.
Em 12 meses até janeiro, o saldo da dívida das famílias do País com o sistema financeiro ainda alcançava 41% da renda total delas, mostram dados mais recentes do Banco Central (BC).
Por esses motivos, Campelo sinaliza que a credibilidade depositada na economia pelos consumidores demorará mais para alcançar um patamar positivo do que as empresas. Segundo ele, o Índice de Confiança dos Consumidores (ICC) do Ibre não deve chegar nem aos 100 pontos neste ano, nível considerado neutro. Abaixo de 100 significa baixa confiança e acima, alta confiança. Em março, esse indicador chegou a 92 pontos, aumento de 8,1 pontos em relação a igual mês de 2017.
Apesar da recuperação, Campelo diz que o problema é a percepção com o cenário presente. O indicador de confiança da FGV é composto pelo Índice de Situação Atual (ISA), que ainda está em 78,6 pontos, e pelo Índice de Expectativas (IE), que já marca 101,5 pontos.
“As pessoas estão até positivas com relação ao futuro. Elas acham que as coisas irão melhorar, mas a percepção com relação ao presente é muito desfavorável, principalmente com relação ao mercado de trabalho.
As avaliações das famílias apontam que ainda estamos em um dos piores momentos do desemprego”, afirma Campelo, destacando que o ISA é o que deve segurar um pouco a expansão do ICC. Ele acrescenta que a baixa credibilidade do governo perante à população também é um outro fator que tem influenciado o ISA.
Negócios
O consultor da Iwer Capital Artur Lopes afirma, por sua vez, que o País começou o ano com a confiança dos empresários em alta, mas que os “solavancos” políticos recentes e um quadro indefinido da sucessão presidencial está colocando “em suspenso” o movimento das empresas de desengavetamento de projetos. Para ele, os indicadores econômicos e os de confiança também devem ter uma trajetória de crescimento muito gradual e lenta.
Na avaliação de Lopes, a incerteza política ocorre pela grande quantidade de candidatos à Presidência e pela falta de clareza nas propostas. “Então é natural que a atividade econômica e que a confiança se ressintam”, observa o consultor.
“O mercado é movido às possibilidades de ganho e, neste momento, elas estão incertas. O pessoal não vai sair investindo, a bolsa não vai explodir e nem o dólar cair muito.
A expansão dos negócios se dará de forma vegetativa e pífia neste ano, nada muito significativo que possa reverter a realidade em que estamos vivendo”, complementa Lopes da Iwer Capital, destacando que o crescimento da economia se dará por uma melhora muito pequena no consumo das famílias, em decorrência da queda dos juros e alguma recuperação no emprego.
Comércio e indústria
O assessor econômico da FecomercioSP Fábio Pina avalia que a percepção dos empresários do comércio acerca dos negócios arrefeceu no início de 2018, depois de uma trajetória de alta desde o ano passado.
“A confiança das empresas estacionou e a dos consumidores teve uma inflexão para baixo”, diz Pina. “Os indicadores econômicos [juros e inflação] estão melhores, mas ainda não estamos sentindo os efeitos deles na prática. É preciso ter um crescimento da renda, do emprego, algo que vai demorar um pouco”, complementa Pina, ressaltando que a confiança deve avançar lentamente ao longo deste ano.
O economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Marcelo Azevedo diz que a confiança dos industriais está em 59 pontos, acima da média histórica da instituição.
Quanto mais acima de 50, maior é a disseminação da confiança entre as empresas. Os dados da CNI, diz Azevedo, mostram que tanto os índices de situação atual, quanto os de expectativas estão avançando e se refletindo na produção e no faturamento dos negócios. Para ele, os fatos políticos podem, sim, interferir nos indicadores mais à frente, mas nada que reverta os ganhos.
Campelo, do Ibre-FGV, espera que Formação Bruta de Capital de Fixo (FBCF, investimentos) tenha expansão de 5% a 6% neste ano, o que ainda será pouco para reverter a queda de 27% durante o último período de recessão.
Ele comenta que os investimentos que estão feitos hoje estão mais pautados em atualização dos ativos, como substituição de máquinas e equipamentos do que em expansão de plantas industriais, o que, de fato, acaba gerando um volume mais significativo de FBCF em toda a economia.
Fonte: Jornal DCI-13/04/2018
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